Achei esse texto muito interessante e verdadeiro.
Erick
Sempre que vejo na TV uma entrevista, ou leio alguma matéria que fala sobre a Educação no Brasil, assisto, incrédulo, a uma hipócrita demonstração de que tudo vai muito bem, obrigado. Exceto por alguma deficienciazinha aqui, outra ali, problemas, evidentemente, de fácil solução, vamos indo bem, graças a Deus. Dizem os técnicos no assunto que os governos trabalham arduamente para salvaguardar o direito que todo cidadão tem de frequentar uma escola. E frequenta, como frequenta!
Ouvindo-os, os técnicos, fico deslumbrado como se estivesse diante da televisão na hora da transmissão do casamento de um príncipe inglês. Encho-me de entusiasmo com tamanho envolvimento e empenho de gente que faz do ensino brasileiro motivo de orgulho.
Claro que, ao despertar dessa quimera para a dura realidade in loco, a bola de entusiasmo murcha, e o choque me abala a estrutura mental assim como deve abalar a de qualquer professor, tendo em vista o quanto é precário o nível de entendimento de um pequeno estudante do ensino público. E bota superlativo nessa precariedade! Quadro agravado ainda mais quando se sabe que não há como remediar o mal ora estabelecido que afeta a vida de quem jogou fora a chance de aprender, simplesmente porque não foi ensinado sobre a importância do conhecimento.
A responsabilidade por esse fenômeno que se agiganta dia a dia é de uma sociedade que esqueceu como educar os filhos, aliada a um sistema que criou regras em que o jovem, criança ou adolescente, é detentor de todo direito, sem a menor preocupação com os deveres. E à escola resta a alternativa única de digerir goela abaixo um graúdo abacaxi com casca e tudo. Sem qualquer mecanismo que lhe dê amparo na peleja contra a indisciplina feroz e o interesse cada vez mais ausente, a pobre rede escolar toca a vida sem cumprir adequadamente seu sagrado papel de ensinar. Isso porque, o professorado, de mãos atadas, nada pode fazer diante de uma plateia enfurecida a rejeitar qualquer assunto pertinente às disciplinas do currículo. Sobretudo, porque esta se orgulha da pobreza intelectual, e não sabe que a estupidez a reterá na mesmice do pensamento fútil que só valoriza o banal. É claro que, anestesiado pela ignorância, esse indivíduo não chega a sofrer, afinal não entende que a vida possui outras possibilidades. É feliz acomodado numa situação conveniente para alguém que cresce ao sabor dessa maré de pobreza mental.
Entretanto, é bom que se saiba que, a continuar nesse ritmo de deterioração, o ensino logo entrará em colapso. Principalmente pela falta de professor, sujeito dessa oração, que já começa a escassear, simplesmente pelo fato de que um estudante de juízo, pronto para ingressar no ensino superior, jamais escolhe uma profissão em que, humilhado no seu cotidiano, o operário da educação perde a calma por ter que implorar ao cliente licença para executar o seu trabalho, sem quase nunca conseguir. Data vênia.
Artigo publicado no Jornal Diário do Grande ABC.
Autor: Professor Rodolfo de Souza